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DOM DEMÉTRIO VALENTINI

Agenda Paulina - Dom Demétrio Valentini
Este ano de final oito já vinha carregado de muitas reminiscências históricas. Desde os duzentos anos da chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil em 1808, até a conquista de nossa primeira copa do mundo, em 1958. E daria para respigar tantas outras datas com a marca deste número.
Mas eis que agora se acrescenta outra, que não entrava nos cálculos. Esta com ressonâncias históricas mais amplas. Trata-se do “ano paulino”, a se iniciar agora, no final deste mês de junho, até a festa de S. Pedro e S. Paulo no ano que vem.
Pois bem, pelas contas da história, S. Paulo, o famoso “Paulo de Tarso”, o grande apóstolo que sempre é citado ao lado de S. Pedro, teria nascido nas proximidades do ano oito de nossa era. Entre o sete e o dez. Para acertar na mira, a Igreja decidiu cravar um ano inteiro, da metade de 2008 até a metade de 2009. Em todo o caso, um ano dedicado à memória deste personagem fundamental nos primórdios do cristianismo, em que ele foi, sem sombra de dúvida, uma figura de destaque.
Agora que o “ano paulino” se apresenta, começamos a perceber os múltiplos aspectos deste personagem histórico, que despertam grande interesse na confrontação com o tempo em que estamos vivendo. Vai ser muito bom olhar mais de perto a estupenda trajetória deste judeu, nascido em Tarso, atual Turquia, formado na ortodoxia dos fariseus em Jerusalém aos pés do mestre Gamaliel, perseguidor dos cristãos nos tempos impetuosos de sua juventude, e de repente transformado em ardoroso e destemido Apóstolo de Jesus Cristo, de quem ele tinha pretendido apagar todos os vestígios de memória.
Foi tão importante sua atuação como pregador da nova fé, que indiscutivelmente resultou no seu maior sistematizador. Tanto que muitos historiadores o colocam como o verdadeiro fundador do “cristianismo”.
Este o Paulo que somos convidados a conhecer melhor ao longo deste ano. Oportunidades não vão faltar. Pois são muitos os motivos que estimulam os historiadores a pesquisarem melhor as circunstâncias que envolveram este homem que mudou radicalmente sua vida, mas nunca deixou de agir com extremada paixão.
Sua história serve, em primeiro lugar, para analisar o processo de sua conversão pessoal, com os preciosos ensinamentos que ela proporciona, num tempo de crise de subjetividade como vivemos hoje. São Paulo nos apresenta um testemunho impressionante de empenho pessoal em trabalhar seu temperamento, para se tornar instrumento mais adequado para cumprir a grande missão que o Senhor lhe confiou. Já valeria um “ano paulino”, só para analisar a trajetória pessoal de Paulo, e captar o comovente exemplo de dedicação total de sua vida à causa do Evangelho.
Mas a trajetória de Paulo tem evidentes conotações teológicas e eclesiais. Foi de todo providencial que a inteligência de Paulo tenha sido colocada a serviço do Evangelho. Mas não só sua inteligência. Sua condição étnica e cultural também. Nascido em Tarso, era cidadão romano, aberto ao vasto mundo do império da época. Ao mesmo tempo, se formou em Jerusalém, onde captou em profundidade a tradição religiosa de Israel. E se defrontou com a fé cristã no seu nascedouro.
Era a pessoa adequada para libertar esta fé das amarras estreitas do judaísmo, e colocá-la em confronto com a humanidade, à qual ela se destinava. S. Paulo foi o grande protagonista da inculturação do Evangelho no mundo greco-romano.
Aí está o seu mérito maior, e a sua grande atualidade. São Paulo é paradigma do maior desafio que hoje a Igreja está enfrentando. Captar o Evangelho na sua profundidade original, para colocá-lo de novo como fermento transformador da realidade de hoje.
E’mais do que oportuno este “ano paulino”! É um convite para alargar nossos horizontes, e perceber como as grandes causas da humanidade retornam com novos desafios, que precisam ser enfrentados com a grandeza de ânimo que sempre animou S. Paulo.
Dom Demétrio Valentini
Fonte: CNBB

DOM ORANI JOÃO TEMPESTA

Aparecida e São Paulo - Dom Orani João Tempesta

Tendo aberto neste sábado o Ano Paulino, somos chamados a empreender uma caminhada aproveitando desse momento de graças para que, a exemplo do Apóstolo das gentes, levemos a Boa Notícia até os confins da terra.
O Documento de Aparecida fala da “missão permanente”. Sem dúvida que este ano, em que começamos a colocar em prática as inspirações da V Conferência do Episcopado Latino Americano e Caribenho, o grande modelo de missionário permanente que a providência nos coloca diante dos olhos é São Paulo. Não só pelas suas viagens missionárias, mas pelo espírito que reinou em seu coração durante todos os momentos de sua conversão até o final de sua vida. Tinha o espírito missionário em suas entranhas e gritava a todos; “ai de mim se não evangelizar!” Se neste ano jubilar trouxermos para dentro de nossos corações um pouco desse ânimo missionário de São Paulo, já estaremos percorrendo os caminhos da missão permanente!
O mesmo documento que ilumina nosso trabalho pastoral neste tempo privilegiado recorda a importância de “formar comunidades”. É também para nós uma graça de Deus vermos como São Paulo passa meses em uma mesma cidade formando as pessoas, constituindo comunidades, deixando bispos e presbíteros responsáveis pela animação e articulação das mesmas quase que como fruto de sua atividade itinerante, mas também como caminho de evangelização. São poucos os estudos sobre os tipos de comunidades “paulinas”, mas salta aos olhos esse seu trabalho inicial de pregar e anunciar Jesus Cristo e levá-los a viver em comunidades cristãs.
São Paulo é um homem urbano. Aparecida nos diz que não tememos a grande cidade – é mais oportunidade que dificuldade. O sábio Documento de Aparecida lembra que o cristianismo nasceu mais nas regiões urbanas que nos campos. Por isso, neste tempo de grande urbanização nós olhamos a oportunidade que a Providência nos dá de levarmos a todos o Evangelho de Jesus Cristo através das grandes cidades. Nós olhamos como um desafio positivo, que nos entusiasma em nossa missão. A orientação de Aparecida para uma pastoral urbana reflete bem isso.
A grande tese inicial do Documento de Aparecida que nos desafia é a mudança de época, que é principalmente cultural. Temos necessidade de pessoas que, sintetizando a cultura atual, sejam cristãs autênticas, anunciem com destemor inculturado a Palavra de Deus. São Paulo é uma síntese cultural de seu tempo: judeu, de cultura grega, cidadão romano, falando hebraico e aramaico e talvez latim sintetiza em sua vida tanto a vida em Cristo, igualmente aos poetas e escritores de seu tempo e das culturas, assim como as transformações que em sua época estavam ocorrendo. Para um tempo de mudança de cultura nada melhor que um exemplo de como alguém trabalhou nesse campo nessa situação e pregou intrepidamente o Evangelho e formou comunidades cristãs.
Vivemos a época da comunicação! Talvez nunca a humanidade dispôs de tantas possibilidades de comunicação e talvez nunca esteve tão dependente dela! Sabemos que após o Concílio Vaticano II, com o iluminado decreto Inter Mirifica, primeiro documento aprovado, a Igreja passa a ver a comunicação como um desafio a ser utilizado para a evangelização. Os documentos que se seguiram foram atualizando e aprofundando essas idéias. São Paulo acompanhava suas comunidades com cartas que chegavam e cartas que ele escrevia, animando, corrigindo, mostrando caminhos, catequizando. Inspirados em seu modo de comunicar nasceram várias famílias religiosas especializadas em comunicação. Também o Documento de Aparecida enfrenta essa mesma situação ao falar de comunicação e dos seus desafios a serem enfrentados por nós. Nesse ponto ele ultrapassa, e muito, a síntese nacional que fizemos quando a comunicação tinha sido vista apenas negativamente. Para um tempo de comunicação, nada melhor que um grande comunicador – São Paulo.
E assim poderemos prosseguir nesses paralelos entre os desafios e soluções apontados por Aparecida e a vida desse grande apóstolo que agora começamos a celebrar os dois mil anos de nascimento.
Tendo aberto o seu jubileu, estimulo todos os leitores para procurarem a programação do ano para os vários eventos tanto arquidiocesanos como paroquiais.
Ontem, hoje e sempre é o mesmo Cristo anunciado por São Paulo que também anunciamos hoje. Que o Apóstolo Paulo continue a nos inspirar nessa caminhada!

D. Orani João Tempesta, O. Cist, arcebispo Metropolitano
Fonte: CNBB

DOM ORLANDO BRANDES - ARCEBISPO DE LONDRINA

Chegou o Ano Paulino - Dom Orlando Brandes

O Ano Paulino, decretado pelo Papa Bento XVI, começa no dia 29 de junho de 2008 até 29 de junho 2009. Os católicos são convidados a conhecer, vivenciar, transmitir o “evangelho de Paulo”, ou seja, os escritos paulinos. No Brasil já percebemos uma forte movimentação neste sentido. Edições de livros, cursos bíblicos, retiros, painéis sobre Paulo e a teologia paulina já estão acontecendo. Há grande expectativa na Igreja pelas seguintes razões.
1. O Ano Paulino será um ano bíblico “A Palavra de Cristo habite em vós” (Col 3,16). Acontecerá em Roma no próximo mês de outubro o Sínodo sobre a Palavra de Deus na vida e missão da Igreja. Nós aqui vamos consolidar uma mobilização bíblica para que o povo tenha a Bíblia na mão, no coração e os pés na missão. Vamos também ensinar a Leitura Orante da Bíblia. Precisamos formar um catolicismo bíblico para reanimar nossa vida pessoal, eclesial e social.
2. O Ano Paulino é chance para a conversão. Tudo começou com a conversão de Paulo, com aquele encontro fascinante, decisivo, persuasivo e resplandecente com Jesus Cristo. Paulo foi derrubado pela graça, tocado pela luz, ferido pelo amor misericordioso, recriado pela Palavra que ouviu. Sua conversão foi uma rendição incondicional mediante a fascinação do coração. É hora de conversão pessoal, pastoral e social.3. O Ano Paulino vem consolidar os Grupos de reflexão, as pequenas comunidades. Paulo é o padroeiro dos pequenos grupos, da Igreja nas casas, das comunidades eclesiais. Preparou lideranças que animavam estes grupos como por exemplo: Lídia, Aquila, Priscilla, Apia, Arquipo etc. Paulo nos convoca a crer nos grupos, a visitar as casas, a fundar comunidades.
4. O Ano Paulino quer ser um salto, um impulso da ação missionária. Quanta valentia, ousadia, criatividade encontramos em Paulo, o missionário incansável, peregrino, pedagogo, estrategista. Era missionário dentro das prisões onde foi encarcerado enfrentou centros urbanos e periferias, levou o cristianismo onde reinava o paganismo e o judaísmo. Eis a missão com desassombro.
5. O Ano Paulino é uma oportunidade de renovação ética. Para Paulo, o que vale é ser discípulo e seguidor de Jesus, viver no Espírito, e testemunhar a fé nos gestos de amor fraterno e comunitário. A ética cristã é uma resposta de amor que traz a novidade do perdão, da esperança, da castidade, do celibato. Nosso mundo atual voltou a ser pagão. O Ano Paulino quer ser uma revolução ética. O mundo acredita mais nos testemunhos do que nos mestres. É preciso convencer com as obras e não com palavras apenas.
6. O Ano Paulino é um aprofundamento da teologia da cruz. Paulo sofreu muito, mas a dor lhe conferia vigor e desassombro. O sofrimento era para a glória de Deus, o bem da Igreja e da missão. Além do espinho na carne, Paulo foi apedrejado, torturado, flagelado, preso, perseguido, humilhado, processado e martirizado. Sua mística e sua fé fizeram do sofrimento um crescimento, uma benção, uma sabedoria - a ciência da cruz.
7. O Ano Paulino vem fortalecer o Ano Catequético. Paulo é um catequista de primeira categoria. Convertido, místico, teólogo, itinerante, discípulo, pedagogo, segue catequizando até morrer. Em Paulo temos uma catequese com adultos, uma catequese urbana, nas casas, catequese inculturada e catequese renovada. Prega a sã doutrina, cativa as pessoas, anima os catequistas, sofre porque ama a Igreja e trabalha para o próprio sustento.
8. O Ano Paulino é um ano da graça. Recebemos indulgências especiais neste ano, muitas graças estão reservadas para nós. Que prodígio da graça é a pessoa de Paulo Apóstolo: grego, judeu, cidadão romano, ambulante, sofredor, teólogo, “sou o que sou pela graça de Deus” (ICor 15,10). A graça trabalhou em mim, diz Paulo. Esta mesma graça trabalhará em nós no decorrer do Ano Paulino que vem solidificar o Documento de Aparecida.
*Dom Orlando Brandes, Arcebispo de Londrina
Fonte: CNBB

DOM EUSÉBIO OSCAR SCHEID - ARCEBISPO DO RO DE JANEIRO

São Paulo, Apóstolo dos Gentios – Dom Eusébio Oscar Scheid
Acabamos de celebrar, no dia 25 de janeiro, a conversão de São Paulo. Foi, talvez, o fato mais importante para a história daquele tempo e, certamente, para o Cristianismo, depois do acontecimento do Cristo histórico e de sua Ressurreição gloriosa. São Paulo é o maior Apóstolo de todos os tempos, juntamente com São Pedro, o primeiro Vigário de Cristo na Igreja. Neste ano, iniciaremos a comemoração do Ano Paulino, a partir de 29 de junho próximo até à mesma data, em 2009. Por isso, permitam-me refletir um pouco sobre esse chamado “Apóstolo dos Gentios”.
A história de Paulo chegou até nós pela Tradição e, depois, pelos seus textos – as 14 Cartas – em algumas das quais ele notifica sobre si mesmo. Também encontramos os detalhes de sua missão nos Atos dos Apóstolos, escritos por São Lucas, seu companheiro nas últimas viagens apostólicas, e amigo fiel até à morte do Apóstolo, em Roma. Foi o seu primeiro grande biógrafo.
São Paulo nasceu há dois mil anos, aproximadamente, na cidade de Tarso, região da Cilícia, na Ásia Menor, um dos maiores centros culturais do Império Romano, daquela época. Ele teve uma educação aprimorada, na sua língua pátria, o hebraico. Ainda jovem, foi para Jerusalém, a fim de aprofundar os seus conhecimentos sobre a Lei, os Profetas e as Tradições do seu povo. Tornou-se aluno de Gamaliel, que era membro do Sinédrio, e um dos maiores mestres judeus de todos os tempos.
Recebeu, também, formação helênica. Conhecia bem o grego, e teve contacto com as escolas filosóficas da época, dentre elas o estoicismo e o epicureísmo. Em Atenas, havia muitos desses intelectuais, ou pseudo-intelectuais, apenas interessados em novidades. São Paulo, já convertido, teve um encontro com vários deles, no areópago da cidade. Foi um grande fracasso. Quando ele expôs o centro da pregação e do significado da vida de Cristo, não quiseram aceitar e até fizeram troça sobre o testemunho da Ressurreição do Senhor. Isso lhe causou grande sofrimento.
São Paulo era cidadão romano, em função de privilégio, concedido pelo Império, aos nascidos na cidade de Tarso, entre outras. Portanto, também era versado no latim. Ninguém melhor do que ele para ser o “Apóstolo dos Gentios”, pois representa a síntese de três culturas – judaica, helênica e latina – que perfizeram a sua formação cultural.
Os Atos dos Apóstolos apresentam-no em Jerusalém, já com idade entre 20 e 30 anos, no episódio do apedrejamento de Estêvão. Foi aos pés de Saulo que os executores depositaram as próprias capas, durante o sacrifício do Diácono, em sinal de sua aquiescência com aquela execução. São Paulo, na época ainda chamado de Saulo, seu nome de nascimento, jamais haveria de esquecer aquele fato, que lhe doeu pela vida toda.
Fariseu por convicção e formação, era inimigo dos que seguiam o “Caminho de Jesus”. Tanto que pediu licença para ir a Damasco, na distante Síria, a fim de prendê-los e condená-los. Entretanto, na estrada para Damasco, viveu uma profunda experiência mística, que o derrubou por terra como as suas convicções anteriores: “Subitamente, cercou-o uma luz resplandecente vinda do céu. Caindo por terra, ouviu uma voz, que lhe dizia: ‘Saulo, Saulo, por que me persegues?’ Saulo disse: ‘Quem és, Senhor?’ Respondeu Ele: ‘Eu sou Jesus, a quem tu persegues’. Então, trêmulo e atônito, disse ele: ‘Senhor, que queres que eu faça?’” (At 9,3-5).
Aquele momento marcou Paulo até o final da sua vida. Mostrou-lhe como Jesus se identificava com a comunidade que ele estava perseguindo e matando... Durante três dias ficou na escuridão, sem comer, nem beber. Experimentou a noite escura, da qual falam os místicos, até que recebeu a visita de Ananias. A partir daquela hora, a visão, a personalidade e a vida de Paulo mudaram por completo. Recebeu, a seguir, o Batismo (cf. At 9,8-19).
Prosseguiu seu aprofundamento na fé, através de uma viagem à Arábia, onde parece ter permanecido por mais de um ano, interiorizando o mistério de Cristo. Diferentemente dos outros Apóstolos, Paulo não O conhecera pessoalmente, nem ouvira a pregação de seus próprios lábios. Os Evangelhos ainda não haviam sido escritos. Portanto, o que lhe restava para descobrir sobre a Verdade da Fé eram os ecos daquele encontro sobrenatural, que ele deve ter meditado em oração, no silêncio do deserto da Arábia. A decisão de ser Apóstolo dos Gentios surgiu, possivelmente, naquele período, num contacto muito íntimo com o Cristo, e com os Apóstolos Kefas, Tiago e João.
O próprio Paulo testemunha: “Eu sou o menor dos apóstolos, e não sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. Mas, pela graça de Deus sou o que sou, e a graça que Ele me deu não tem sido inútil” (1Cor 15,9-10a). “Asseguro-vos, irmãos, que o Evangelho pregado por mim não tem nada de humano. Não o recebi nem o aprendi de homem algum, mas mediante uma revelação de Jesus Cristo” (Gl 1,11-12).
Dentre os temas da doutrina de São Paulo, destacamos como ponto central, a cruz do Senhor, que ele anuncia como superior a qualquer sabedoria humana: “Os judeus pedem milagres, os gregos reclamam sabedoria; mas nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos” (1Cor 1,22-23).
Outro ponto fundamental é o poder do sangue de Cristo. Ele, que fora responsável pelo derramamento de sangue inocente, reconhece o valor infinito do sangue de Cristo, para nos salvar: “Pelo seu sangue, temos a Redenção, a remissão dos pecados” (Ef 1,7); “Por intermédio daquele que, ao preço do próprio sangue na cruz, restabeleceu a paz a tudo quanto existe na terra e nos céus” (Cl 1,20).
São Paulo também insiste sobre a vida nova. Não bastam a Lei e os Profetas. Agora tudo se fez novo, com o acontecimento histórico de Cristo, que é o novo caminho. Portanto, não se vive mais das tradições antigas. A vida é o próprio Cristo: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20).
Ainda se pode mencionar o poder da graça, que vem de Cristo, e que Ele comunica a toda a humanidade. Aqueles que se abrem a esse dom recebem a força divina para viver os mandamentos e seguir o caminho de Cristo Jesus. Imerecida graça, mas tão forte que nos faz superar quaisquer obstáculos que a vida presente nos possa apresentar.
Finalmente, aprendemos com São Paulo sobre a importância das comunidades. Suas Cartas sempre incluem admoestações e ensinamentos para as primeiras comunidades, que ele – em grande parte - fundou e buscava estruturar. São experiências valiosas para nós, até os dias de hoje. O Livro dos Atos também nos revela a solicitude do Apóstolo pelo grupo dos Doze, especialmente Kefas (nome grego de Pedro)(cf. At 15,4-21). Ambos tiveram seu sangue derramado em Roma, Pedro, crucificado e Paulo, decapitado.
São Paulo teve uma vida de muito sacrifício. Foi algumas vezes flagelado e apedrejado, sofreu um longo naufrágio. Fez quatro grandes viagens ou, pelo menos três, segundo sabemos, sendo a última para Roma, onde esteve no cárcere, durante diversos anos. Posteriormente, sofreu a decapitação, nos arredores daquela cidade. No local, conhecido como Tre Fontane (“Três Fontes”), ergue-se hoje uma igreja, recordando o tríplice impacto que sua cabeça teria sofrido, ao ser cruelmente separada do corpo.
Nas ocasiões em que visitei aquele local, assim como quando leio as Cartas de Paulo, sempre peço a Deus um pouco daquela mesma luz que Ele projetou sobre esse grande Apóstolo, para que eu possa compreender os seus ensinamentos, seguir o seu exemplo e ser capaz de testemunhar Cristo pelo meu ministério e pela pobreza de minha pessoa e de minha vida.
*Cardeal Eusébio Oscar Scheid, 75, arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Fonte: CNBB

DOM PEDRO JOSÉ CONTI - BISPO DE MACAPÁ


Cair do cavalo - Dom Pedro José Conti

Peço desculpas a São Pedro se este ano vou falar mais de... São Paulo. Acontece que a partir do final de junho até a mesma data do próximo ano celebraremos, no mundo, todo o Ano Paulino. Uma forma que a Igreja Católica encontrou de lembrar e festejar, de maneira extraordinária, aquele grande apóstolo, missionário e evangelizador dos pagãos que foi, justamente, São Paulo.
Todos devemos lembrar a presença do então Saulo, no apedrejamento do protomártir Estevão, narrada nos Atos dos Apóstolos. Como também sempre chama atenção a famosa queda dele do cavalo no caminho rumo a Damasco. Saulo mudou radicalmente de vida e até de nome. De perseguidor, tornou-se testemunha de Cristo, a tal ponto de ser martirizado, em Roma, por volta dos anos 70.
Pensando bem, o nosso encontro com Jesus deveria ser para mudar mesmo a nossa vida. A outros santos famosos, por exemplo: Santo Agostinho, São Francisco, Santo Inácio de Loyola, aconteceu o mesmo. Eles mudaram de vida, de uma vez por todas, deixando para trás tudo o que começaram a reconhecer como “lixo”, segundo as palavras do próprio São Paulo. Com a fé encontraram o tesouro mais valioso de todos.
Nem sempre as conversões aconteceram e acontecem com tanta rapidez e determinação. No entanto, de uma forma ou de outra, algo de visível e concreto deve aparecer. Quando a nossa fé e as suas manifestações viram rotina, bem encaixadas no planejamento da nossa vida, junto - por exemplo- ao trabalho, ao passeio, às compras, às férias, é para por em dúvida se encontramos o Jesus verdadeiro ou uma caricatura dele, adocicada e folclórica. Mais enfeite de parede, de pescoço ou de orelha, do que razão de vida.
Se as nossas crenças não incomodam, nem um pouco, o nosso cotidiano, é sinal de que ainda não caímos do nosso cavalo. Ali estamos bem instalados, com todas as nossas seguranças. Chegamos a pensar que Deus esteja conosco, simplesmente porque nós o colocamos, devota e respeitosamente, em um cantinho da nossa vida. Mas atenção: pode ser somente um amuleto contra os malefícios e o mau olhado.
O seguimento de Jesus é sincero, quando deixamos que ele revolucione a nossa vida: nas idéias, nos projetos, na busca e no uso dos bens, no encontro com as pessoas, na consciência. Exceto isso é difícil acreditar que algo de novo tenha acontecido, realmente, em nossa vida. Jesus continua bem fechado no seu sepulcro, ainda não ressuscitou para nós.
Nesse sentido, São Paulo sempre será um exemplo de mudança de vida séria e profunda, mas também de amor apaixonado por Jesus. O ódio e a perseguição dos cristãos transformaram-se em total dedicação e seguimento destemido. O apóstolo ficou tão feliz por ter sido agarrado por Jesus, que não queria mais deixá-lo. O único medo dele era ter corrido em vão e perder, no último instante, o prêmio incomparável que aguarda todos os que travam o bom combate da fé.
Se alguém achar que esse homem foi um fanático, um carente com complexo de inferioridade, que se autopromovia defendendo o próprio trabalho apostólico com discursos brilhantes de oratória, é porque nunca leu as suas cartas. O objeto da pregação de São Paulo foi a Cruz do Senhor Jesus, e a única razão da sua vida, o amor incondicional a Ele. Nem o maior namorado diria à namorada que, por amor, está disposto a “desculpar tudo, crer tudo, esperar tudo, suportar tudo” (cfr. 1 Cor 13,7). Seria arriscado demais. No entanto São Paulo falava assim do amor de Deus, do amor que deveria tomar conta da nossa vida, do amor verdadeiro que jamais acabará. Que coragem!
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá
Fonte: CNBB

DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO - ARCEBISPO METROPOLITANO DE JUIZ DE FORA - MG

Ano Paulino - Dom Eurico dos Santos Veloso


Do dia 28, a Igreja vai celebrar até o dia 29 de 2009, o Ano Paulino: a comemoração dos 2.000 anos do nascimento do Apóstolo Paulo que nos é conhecido melhor do que qualquer outro Apóstolo, sobretudo por suas Epístolas e pelos Atos dos Apóstolos.
Paulo era judeu, da tribo de Benjamim, nascido em Tarso, mas era igualmente cidadão romano, por direito, segundo ele próprio o declara, quando foi açoitado na prisão em Filipos (cf. At. 16,34), e em Jerusalém (cf. 22,25-29).
De personalidade marcante, firme em suas convicções, de sólida formação religiosa, segundo a doutrina dos fariseus, recebida de Gamaliel, opôs-se tenazmente à mensagem de Cristo e, no seu zelo religioso, perseguia até à morte os seguidores desta doutrina (cf. Fil.3,4-6). A seus pés foram depositadas as vestes de Estevão, quando apedrejado entregava seu espírito a Deus (cf. Atos 7,5, 8).
A caminho de Damasco com cartas para trazer a Jerusalém prisioneiros seguidores daquela doutrina, foi “alcançado por Jesus” (cf. Fil. 3,12). Não foi só uma visão (cf. 1Cor 9,1). Foi uma revelação em seu coração para fazer brilhar o conhecimento da Glória de Deus, que resplandecia na face de Cristo (cf. 2 Cor. 4,6).
A partir deste acontecimento “não consultei carne nem sangue, nem subi a Jerusalém aos que eram apóstolos antes de mim...” apenas partiu para sua missão, a ponto de apenas “ouvimos dizer: quem outrora nos perseguia agora evangeliza a fé que antes devastava” (cf. Gal. 1, 15-24). Saiu a anunciar Cristo, o Filho de Deus.
Destaca-se na missão de Paulo a universalidade. Quando o Senhor Jesus, em visão, ordenou a Ananias que procurasse Paulo, ante a estupefação deste, lhe disse: “vai, porque este homem para mim será um vaso de eleição a fim de anunciar o meu nome diante das nações pagãs, dos reis e dos filhos de Israel“(cf. Atos 9, 15). A pregação de Paulo é para os judeus e gregos, para bárbaros e cultos, ele que se “fez tudo para todos a fim de salvar alguns a todo o custo” (cf. 1Cor. 9, 19-23).
A sua dedicação é total. Forçado a defender-se, perante a Comunidade, em face dos que se lhe opunham, expõe seus trabalhos na evangelização: as perseguições e perigos a que levou a pregação do Evangelho(cf. 2Cor. 11). Mas dela não se gloria, ”com todo o ânimo prefiro gloriar-me das minhas fraquezas para que pouse sobre mim a força de Cristo” (cf. 2Cor. 12,9).
Paulo não evangelizava sozinho. Fundada uma Igreja, acompanhava com seus companheiros o seu crescimento. Trabalhava com eles. Amava os evangelizados com o carinho de mãe. Tinha em seu coração a solicitude de todas as comunidades.
Ainda neste último domingo, no Evangelho Jesus falava a seus discípulos “não tenham medo”. Paulo jamais vacilou: nos trabalhos, nas vigílias, nas perseguições e nas cadeias até o suplício final. Perseguido por pagãos e pelos de sua raça, confiava no Espírito que lhe punha as palavras na sua boca diante dos juízes.
Seduzido por Cristo, deixou-se seduzir. A Palavra de Deus ardia no seu coração. Tinha dúvidas se para ele era melhor ficar e pregar o Evangelho ou ir para unir-se em definitivo com Cristo, naquele amor que persiste para sempre, como cantou no seu Hino à caridade.
Combateu o combate. Guardou a fé que com firmeza anunciava e defendia. Por isso recebeu a coroa que lhe estava reservada, como e a todos que guardam a fé a fazem brilhar nas trevas deste mundo.
Hoje, a Igreja nos remete a uma reflexão sobre nossa vocação missionária. Como para Paulo, a seara é imensa e diversificada, sobretudo na multiplicidade de falsas doutrinas, como previra o Apóstolo a seu discípulo Timóteo.
Guardemos também nossa fé e a anunciemos ao mundo sem temor porque também a nós assiste-nos o Espírito Santo até o fim dos tempos, até recebermos também a coroa destinada a todos os que forem fiéis.
Dom Eurico dos Santos Veloso, arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora(MG)

Fonte: CNBB

DOM BENEDICTO DE ULHOA VIEIRA - MEMBRO DA ACADEMIA DE LETRAS DO TRIANGULO MINEIRO

São Paulo Apóstolo - Dom Benedicto de Ulhoa Vieira

Dom Benedicto de Ulhoa Vieira
- Arcebispo Emérito da Arquidiocese de Uberaba/MG.
- Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

Há um ano, em junho passado, o Papa Bento XVI convocou a Igreja para a celebração de um Ano Paulino para comemorar o 2º milênio do nascimento de São Paulo Apóstolo. Este “Ano Paulino” iniciar-se-á no final deste mês e vai até junho de 2009.
A finalidade deste ano jubilar é um insistente convite para descobrirmos a gigantesca e singular figura do Apóstolo São Paulo e nos aprofundarmos na riqueza dos seus ensinos. Mais: esta convocação visa revitalizar nossa fé e encontrar, buscando com todo empenho, a desejada unidade dos cristãos. É o anseio do nosso Papa. Penso que esta celebração, inspirada por Deus, encontre simpatia por parte dos irmãos separados.
A abertura do Ano Paulino será no final deste mês, a 28 de junho, quando – como é já costume – se abrir solenemente a porta da Basílica de São Paulo, designada como “fora dos muros”. Por estar prevista para a tarde esta cerimônia, a oração, que o Santo Padre presidirá, será o ofício litúrgico das Vésperas.
Muitas são as sugestões para a celebração do Ano Paulino. Aguardamos da CNBB os roteiros dos estudos para círculos bíblicos das Cartas Paulinas, sobretudo da 1ª Carta aos Coríntios, em que São Paulo entoa o mais belo hino à caridade, isto é, o amor.
Na doutrina de São Paulo, nada tem valor sem a caridade: nem os dons dos milagres nem a robustez da fé nem as profecias nem os outros carismas portentosos que sejam. Ele termina esta apologia do amor, proclamado que “a caridade jamais há de cessar” (v. 8).
A paterna benignidade de Bento XVI concede a indulgência plenária neste Ano Paulino aos fiéis nas habituais condições da Igreja.
Que a celebração do Ano Santo pelo segundo milênio do nascimento de São Paulo seja ocasião de crescermos no conhecimento da rica doutrina paulina, na fé e na santidade da nossa vida cristã.
Dom Benedicto de Ulhoa Vieira, Arcebispo Emérito da Arquidiocese de Uberaba/MG.
Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.
Fonte: CNBB

DOM ORANI JOÃO TEMPESTA, O. Cist. - ARCEBISPO METROPOLITANO


Ano Jubilar Paulino - Dom Orani João Tempesta

Dia 28 de junho, iniciamos com toda a Igreja o “Ano Paulino”. Iremos comemorar os 2000 anos do nascimento do apóstolo Paulo. O Papa Bento XVI anunciou este jubileu há um ano atrás e concedeu graças especiais para que possamos celebrá-lo não apenas solenemente, mas com frutos para a nossa vida espiritual e, principalmente, para a vida missionária. Para nós da América Latina e Caribe que vivemos em “estado de missão” e para nossa Arquidiocese de Belém que está colocando em prática, pouco a pouco, o projeto “Belém em Missão” preparando-nos para os 400 anos do início da Evangelização aqui no portal da Amazônia, é um grande momento de graça e de grandes possibilidades de animação.
Em Paulo Apóstolo nós encontramos o resumo da cultura daquela época e região: cidadão romano, cultura hebraica e cultura grega. Foi este homem que o Senhor escolheu para ser o Apóstolo das gentes e fermentar com a sua palavra e testemunho a expansão do cristianismo até os confins do mundo então conhecidos.
Incansável em sua pregação e suas caminhadas, São Paulo é para nós hoje um grande sinal colocado para que neste nosso difícil século não tenhamos medo de enfrentar os novos areópagos que a cada dia aparecem diante de nossos olhos e nos colocam sempre a caminho de novos diálogos e novas descobertas.
Apostolo aceito e rejeitado, festejado e apedrejado, acolhido e não recebido, mas sempre com novas energias levanta-se de cada situação com novo ânimo e continua a sua pregação e testemunho.
Fica para nós o motivo do envio para o julgamento em Roma, diante do Imperador: “alegaram contra ele algumas questões atinentes à sua própria religião, e com relação a um certo Jesus, já morto, do qual Paulo afirma que está vivo” (At 25, 19). Será a experiência do encontro com Cristo que ele repetirá sempre como motivação principal de sua transformação, como o fez em sua autodefesa ante o rei Agripa (At 26). mostrando como o Senhor “o agarrou e enviou” mudando-lhe a vida e nome.
“Paulo (Saulo, Saul) nasceu de pais judeus em Tarso (na atual Turquia) nos primeiros anos da era cristã. Por uma certa tradição e convenção estamos comemorando os seus 2000 anos neste ano jubilar (2008-2009). Fariseu por tradição de família, aprendeu, segundo o costume judaico, um trabalho manual ou artesanato: era tecelão. Cedo foi para Jerusalém e estudou na escola de Gamaliel, famoso rabino da época. Não conheceu Jesus histórico e nem presenciou a sua paixão e morte. Mas é certo que estava em Jerusalém pouco depois, quando Estevão foi apedrejado. Ali perseguiu violentamente os cristãos e, com o mesmo fim, dirigiu-se a Damasco com cartas que o autorizava à perseguição contra a Igreja nascente. A caminho, apareceu-lhe repentinamente Jesus, e é quando começa a sua conversão ao cristianismo (mais ou menos nos anos 34 a 36 d. C). Em Damasco recebeu o batismo. Três anos passou em lugar deserto, na Arábia. De volta a Damasco, pregou o evangelho aos judeus, que o perseguiram de morte. Fugiu para Jerusalém, onde visitou Pedro e dali foi para Tarso. Posteriormente se apresentou em Antioquia da Síria. Com Barnabé, empreendeu sua primeira viagem missionária a Chipre e às regiões da atual Turquia (45-49). Fundou diversas comunidades cristãs naquelas regiões. Numa segunda viagem a essas regiões (49-52), atingiu também a Europa, evangelizando a Grécia. Voltou a percorrer essas regiões com roteiro diferente, na terceira viagem missionária (53-58) permanecendo bom tempo nas cidades de Éfeso e de Corinto.
Na Grécia recolheu dinheiro para ajudar a igreja-mãe de Jerusalém aonde foi levá-lo, com o propósito de empreender depois uma viagem a Roma e à Espanha. Porém, os judeus promoveram em Jerusalém um motim contra ele; foi preso pela guarnição romana, ficando detido por dois anos (59-61). Apelou para César; por isso foi levado para Roma, onde passou outros dois anos de prisão moderada (61-63). Terminam aqui as indicações bíblicas diretas. Segundo o autor Clemente Romano e o Fragmento de Muratori, no ano 63 fez uma viagem à Espanha. Parece que voltou logo e de novo foi conduzido preso a Roma sendo aí decapitado talvez em 67”. (cfr. Novo Testamento da Liga de Estudos Bíblicos).
A vida desse grande evangelizador e homem de Deus, seus escritos e seu trabalho iremos estudar mais profundamente neste ano do seu jubileu, pedindo a Deus que nos ajude a ter o mesmo ânimo que lhe dirigiu a vida e disposição para estar como ele em constante estado de missão.
No próximo dia 28, iremos iniciar com uma concentração às 18 horas na Igreja Matriz de São Francisco de Assis (Capuchinhos), de onde partiremos em procissão para a Igreja Matriz da Paróquia de São Pedro e São Paulo, onde, às 19 horas, teremos as solenidades da abertura e proclamação do ano jubilar na arquidiocese e o anúncio dos principais horários e eventos para o calendário anual.
Entregaremos nessa ocasião uma imagem de São Paulo que percorrerá durante o ano todas as Paróquias da Arquidiocese, para encerrarmos com a grande celebração única da Crisma anual, sacramento que nos torna Apóstolos Missionários, no dia 28 de junho de 2009, domingo. Durante esse tempo temas sobre a sua vida e missão estarão sendo estudados em nossas comunidades assim como toda uma programação cultural e teológica de aprofundamento que o nosso Centro de Cultura providenciará.
Convido a todos para essa abertura do ano jubilar no próximo sábado e a iniciarmos juntos, com um grande ardor, o ano Paulino em nossa arquidiocese.
Dom Orani João Tempesta, O. Cist., Arcebispo Metropolitano

Fonte:CNBB

DOM JACINTO BERGMANN - BISPO DE TUBARÃO - SC

DOM JACINTO BERGMANN - BISPO DE TUBARÃO - SC

ANO PAULINO
MISSÃO DE “POPULARIZAR” SÃO PAULO?

Na história da Igreja existiram grandes santos que não chegaram a ser “populares”, quer dizer, não entraram no imaginário coletivo dos cristãos com a magnitude que alguém pensaria.

É o caso de São Paulo. Quando se fala do apóstolo “secamente”, se entende o apóstolo Paulo. Sua conversão, sua ação evangelizadora no extenso império romano, suas cartas que atravessaram os séculos, são testemunho claríssimo de sua indubitável grandeza.

Desde há dois mil anos, as gerações cristãs alimentaram sua fé nos escritos do apóstolo, as grandes reformas da Igreja os tiveram como referências privilegiadas, igualmente o próprio magistério e a teologia.
Apesar de tudo isso, sua presença “popular” não foi muito grande, embora, em alguns casos, muito significativa. Basta ver a aventura paulina na história da Igreja.
São João Crisóstomo, já no século IV, chamava a atenção que muitos cristãos, não só não liam Paulo, como também nem sequer sabiam quantas cartas havia escrito.
Aspectos mais positivos, porém, apareceram na história.

Em plena revolta protestante, e enquanto os reformadores fazem de Paulo uma bandeira de protesto contra a Igreja de Roma, Santo Antônio Maria Zacaria (1502-1541) funda os “Clérigos Regulares de São Paulo”, com a finalidade de imitar o apóstolo em sua missão evangelizadora, exigida pelos tempos, e impulsionar uma renovação da Igreja de seu tempo.

Em 1696 e 1699, nascem em Chartres (França), duas congregações de “Filhas de São Paulo” que, com o patrocínio do apóstolo, se dedicavam a obras de caridade em escolas e hospitais. Sempre na França, nos encontramos com as “Damas de Saint-Paul”(1825), também dedicadas à educação cristã das jovens.

E não faltou um “Instituto Cegas de São Paulo” (1852), formado por mulheres cegas e não-cegas, para ajudar as pessoas cegas, fazendo realidade as palavras de Paulo: “Agoras somos luz em Cristo”.

São Vicente Pallotti (1795-1850), em seu tempo, foi capelão diretor de uma “Sociedade de São Paulo”, dedicada à instrução cristã dos soldados. Mais tarde, inspirado em São Paulo, dá vida à “Sociedade do Apostolado Católico”.

Em 1896, encontramos na Alemanha, as “Irmãs de São Paulo”, uma congregação religiosa dedicada ao serviço dos enfermos e dos pobres.
Contudo, foi preciso esperar a metade do século XIX para que se comece a pensar no apóstolo Paulo em termos mais atualizados.

A isso contribuiu sem dúvida, Mons. Wilhelm Ketteler, bispo de Manguncia (Alemanha), apóstolo da imprensa católica (1856, funda “Der Katholik”) e pioneiro da questão operária (1864). É sua a frase: “Se São Paulo vivesse hoje, seria jornalista”, tornando-se ela um símbolo e uma fonte de inspiração para os homens da imprensa católica.
Desde então, jornalistas, grupos e até fundadores começam a olhar Paulo como o comunicador ideal da mensagem evangélica, realizada com os meios e os métodos modernos de comunicação: em 1858, nos Estados Unidos, Pe. Issac Thomas Hecker, com os “Sacerdotes Missionários de São Paulo”; em 1873, na Suíça, Côn. Joseph Schorderet, com a “Obra de São Paulo; em 1875, na Itália, surge a “Sociedade de São Paulo”; em 1895, na China, surge o “Instituto Irmãos de São Paulo”; em 1903, no Líbano, aparecem os “Missionários de São Paulo”; no início de séc. XX, os Assuncionistas do Pe. D’Alzon (França) fundam o “Barco de São Paulo” para levar material impresso para a instrução cristã dos moradores das ilhas entre França e Inglaterra.

Um passo decisivo e bem atualizado acerca de São Paulo em nosso tempo, estava reservado a duas instituições que nascem quase ao mesmo tempo e com atividades bem parecidas: a “Sociedade de São Paulo” do Pe. Tiago Alberione, em 1914, e a “Companhia de São Paulo”, conhecida também como “Obra Cardeal Ferrari”, em 1921. A última composta em sua maioria por leigos.

Já o Pe. Tiago Alberione (1884-1971), com o mérito de ter assumido São Paulo de forma integral, converte a “Sociedade de São Paulo” em uma verdadeira “Família Paulina”, formada por sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos, com vários ramos, chamados a reproduzir uma determinada faceta do Apóstolo: Paulo - missionário com os meios de comunicação, homem de oração, fundador e animador de comunidades, promotor de vocações, incentivador da humanização das realidades temporais.

Como se pode ver, não são muitos os institutos titulados ao apóstolo São Paulo, porém constituíram-se, através do tempo, fundações e movimentos com traços cada vez mais especificamente “paulinos”, aos poucos aguçando a sua originalidade missionária: ir aos que estão longe, com todos os meios ao seu alcance para comunicar-lhes Cristo, o único Salvador.
Contudo, diante de tanta grandeza, fica a questão inicial: Conseguiram todos estes intentos “popularizar” a figura de São Paulo, fazê-la penetrar massivamente no povo cristão? Talvez ainda não.

O Ano Paulino, convocado pelo Papa Bento XVI, certamente tem a missão de “popularizar” mais o grande apóstolo Paulo. É a nossa grande esperança!

Dom Jacinto Bergmann
Bispo de Tubarão-SC
Fonte:CNBB

PE. ALBERTO ERONTI E SEU COMENTÁRIO

COMENTÁRIO DO Pe. Alberto Eronti.

A notícia diz simplesmente que "no próximo dia 28 de junho às 17:30h, o Papa Bento XVI presidirá as Primeiras Vésperas da Solenidade de São Pedro e São Paulo, na Basílica de São Paulo Extra-Muros, em Roma".

O que há de particular neste anúncio?
Em si mesmo, nada, já que é normal para esta Solenidade que os Papas tenham atitudes relacionadas ao "apóstolo dos gentis". Mas nesta tarde o Papa proclamará o início do "Ano Paulino", em comemoração aos 2.000 anos do nascimento de quem levou o Evangelho "até os confins".
Recordando expressões do Padre Kentenich sobre São Paulo, de quem falou em inúmeras oportunidades, há uma que é particularmente iluminadora: "... São Paulo foi eleito no seio de sua mãe para anunciar ao mundo o mistério de Cristo". Se vemos as cartas atribuídas a São Paulo no Novo Testamento e lemos as primeiras linhas de cada uma delas, constataremos que a expressão que acabo de citar toca o núcleo do que viveu e sentiu o Apóstolo no seu seguimento de Cristo. Todas as cartas começam com uma alusão ao Messias (Cristo), sendo o início da Carta aos Romanos a síntese: "Paulo, servidor de Cristo Jesus, apóstolo por chamado divino, escolhido para anunciar a boa nova de Deus".
O impactante de São Paulo é sua consciência de eleição e de propriedade de Cristo.
Nele se reflete o próprio e essencial do chamado para ser discípulo do Filho de Deus feito homem. Não há dúvidas de que Paulo tinha um temperamento apaixonado, seguiu, serviu Cristo e viveu para Ele com absoluto radicalismo. Tanto é assim que escreverá à Igreja da Galácia: "... Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim" (Gál. 2,20). Em um mundo pagão foi capaz de viver Cristo e de anunciá-lo com sua vida e sua palavra. Para marcar a grandeza da fé que propunha, soube que teria que buscar uma coerência total entre o dizer e o fazer. Nem aqui demonstra timidez ao manifestar sua decisão íntima e pessoal frente ao mundo e o que este oferece. Não mostra desprezo pelo mundo, mas sim um apreço total por Aquele que mudou-lhe a vida e que a encheu de plenitude, e assim dirá à Igreja de Filipos: "Sem dúvida, tudo isso que para mim era ganância, eu considero perda comparado com Cristo; mais ainda, qualquer outra coisa eu considero perda ao lado do grande que é ter conhecido Jesus Cristo". (Fl. 3, 7-8). Exagerado? Pode ser, mas há momentos em que só os "exagerados" no amor, na entrega e na lealdade se constituem em luz para o mundo e em uma opção de vida para muitos.
Só os "que vivem radicalmente suas convicções, destacam-se da mediocridade
Em um tempo de indiferença ao acontecimento cristão, em uma época em que se produz uma mudança secular da civilização que gerou um agressivo neo-paganismo, em um tempo assim só os "que vivem radicalmente suas convicções, destacam-se da mediocridade e da mesmice em que está submersa a massa humana". Jesus havia dito aos seus "vós sois o sal do mundo" (Mt. 5,14). Paulo se transformou em luz, em luz de Cristo para muitos. Falou com paixão Daquele que amava e a quem havia dado sua vida. Tanto amor colocou no que fazia por e para Cristo, que o homem forte e batalhador, arriscado até a audácia, constituiu-se em mãe de muitos ao apresentar-lhes o Evangelho, tal como manifesta de maneira penetrante e por sua vez manifesta a essência mesmo do ser discípulo: "Filhos meus, outra vez me causam dores de parto, até que Cristo tome forma em vocês".
Com maravilhosa liberdade interior, própria de quem se sente discípulo de Jesus Cristo, dirá à aqueles para os quais levou o Evangelho, que devem ser como ele. Não há problema algum em colocar-se como modelo de discípulo do seu Senhor: "Sigam meu exemplo, como eu sigo o de Cristo" (1ª. Cor. 11,1). Conhecedor do seu mundo, sabia que eram abundantes as "ofertas" enganosas para os que haviam abraçado a fé, por isso sabia também que não bastava falar, havia que encarnar aquilo que se anuncia. Trata de viver de tal maneira o que anuncia para que não fique dúvidas de qual o caminho a seguir. "Irmãos, sede meus imitadores e olhai atentamente para os que vivem segundo o exemplo que nós vos damos" (Fl. 3,17).
Poucos souberam anunciar com a prática de São Paulo o mandado de Jesus, "Dou-vos um novo mandamento: Amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros" (Jo. 13,34). Em seu afã de que todos entendessem que o seguir a Jesus supõe a novidade de ser conhecidos pelo amor ("nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros" (Jo. 13,35) dará ensinamentos belíssimos e concretos à igrejas que fundou. À comunidade de Corinto lhe deixará como testamento o chamado "Hino do Amor" (1ª. Cor. 13, 1-8), onde lhes ensina "um caminho excepcional", porque só "o amor nunca falha". Às Igrejas dos Colossos lhes dirá que para amar como Jesus tem-se que "despojar-se" ou tirar-se o vestido do não amor: cólera, arrabatamentos de ira, insultos, grosserias... e "vestir-se" com o vestido novo do maior amor "...revesti-vos de entranhada misericórdia, de bondade, de humildade, doçura, paciência. Supotai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente..." (Col. 3, 8 e 12).
Eleitos, chamados e enviados
Em nossos Santuário, guardando o Tabernáculo e Maria, temos as estátuas dos dois apóstolos. Um tem "a chave" e o outro "a espada". Os símbolos diferenciam cada um e ao mesmo tempo ressaltam sua identidade e missão. Pedro e Paulo foram "eleitos, chamados e enviados" por Jesus Cristo. Trata-se de unir cada um destes verbos às graças do Santuário: acolhimento, transformação e envio. O Pai Fundador define sua missão sobre o viver do Apóstolo dos gentis: "Assim como Paulo foi eleito no ventre de sua mãe para anunciar ao mundo o mistério de Cristo; eu fui eleito no ventre de minha mãe para anunciar ao mundo o mistério de Maria". Não são dois "mistérios" paralelos, mas sim apenas um: Maria viveu para Jesus, o seu mistério é o mistério de Jesus, já que para ele viveu, lutou e se entregou.
Que este Ano Paulino nos encontre unidos e reunidos em nossos Santuários, deixando que o amor nos acolha, transforme e envie, para que o horizonte da missão de Schoenstatt se abra mais e mais aos vastos desafios do tempo e como o Pai da Família possamos rezar:
Mãe, que Schoenstatt "continue sendo teu lugar predileto, baluarte do espírito apostólico, chefe que conduz à luta santa, manancial de santidade na vida diária, fogo ardente que flameja Cristo e, chamejante, esparge centelhas de luz, até que o mundo, num mar de chamas, arda para a glória da Santíssima Trindade. Amém". (Rumo ao Céu, nº 499-500)
Trad.: Luciana Rosas, Brasil
Fonte: Site
Movimento de Schönstatt

DOM GIL ANTÔNIO MOREIRA - BISPO DE JUNDIAÍ - SP

Ano Paulino - Dom Gil Antônio Moreira

Paulo, Apóstolo de Jesus Cristo, como ele mesmo se intitula, será lembrado especialmente durante um ano, a partir do dia 28 de junho próximo. A decisão vem do Santo Padre, o Papa Bento XVI, com o objetivo de celebrar os dois mil anos de nascimento do primeiro grande missionário da fé cristã.
Muitas atividades litúrgicas, acadêmicas, culturais e devocionais serão desenvolvidas em todas as partes do mundo cristão, com destaque para as celebrações na cidade de Roma, onde se encontra o túmulo do Apóstolo, na basílica São Paulo Fora dos Muros. O Sumo Pontífice associou a algumas destas celebrações a indulgência plenária aos fiéis que delas participarem. A celebração é ocasião propícia para um aprofundamento dos estudos da Palavra de Deus contida na Bíblia, da qual faz parte o chamado Corpus Paulinum, com treze cartas atribuídas ao Apóstolo dos Gentios.
Paulo, cujo nome na versão hebraica é Saulo, nasceu em Tarso, na Cilícia, hoje território da Turquia, entre os anos 7 e 10, segundo a grande maioria dos historiadores. Filho de pais judeus da diáspora, estudou em escola grega e por isso tinha como língua materna este idioma. Mas também foi formado em doutrina judaica, em Jerusalém, onde passou parte de sua juventude, na famosa escola do Rabino Gamaliel. Assim seria fluente também na língua aramaica. Era fariseu, homem culto, de espírito empreendedor, de uma têmpera singular em tudo o que fazia.
Inicialmente, ferrenho perseguidor dos cristãos, a partir de uma experiência mística, converte-se ao cristianismo no caminho de Damasco, para onde ia com cartas das autoridades para aprisionar cristãos. Ele mesmo afirma ter ouvido a voz de Cristo Ressuscitado, vinda do céu, que clamava: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”. (At.9,1-22). A partir de então, torna-se intrépido apóstolo e missionário do Senhor.
São Paulo é considerado o primeiro teólogo do cristianismo, sendo seus textos, básicos para toda a teologia posterior. Foi o primeiro escritor da fé cristã, através de cartas que enviava às comunidades, a fim de ensinar, animar a fé, corrigir distorções doutrinais e reconduzir ao bom caminho os que moralmente claudicassem.
Com relação ao Corpus Paulinum do Novo Testamento, há, entre os exegetas, certas incertezas a respeito da autoria de algumas cartas, podendo ter sido escritas posteriormente por discípulos, fiéis à doutrina pregada por Paulo. É o caso das chamadas cartas pastorais, ou sejam I e II Timóteo e a carta a Tito. Grande parte dos autores atualmente inclui entre as dêutero-paulinas, também Efésios, Colossenses e a 2ª Tessalonicenses. Se isto for comprovado, todas estas teriam sido escritas após a morte de Paulo, acontecida por volta do ano 67. Pertencem ao grupo das proto-paulinas, ou seja, de comprovada autoria de Paulo, as demais, a saber, Romanos, Gálatas, 1ª Tessalonicenses, 1ª e 2ª Coríntios, Filipenses e Filêmon.
Sobre a datação das cartas de Paulo, a definição é sempre aproximativa. A mais antiga teria sido a 1ª Tessalonicenses, escrita da cidade de Corinto, por volta do ano 51. Depois viriam as cartas aos Coríntios, a primeira escrita da cidade de Éfeso, no ano 55 e a segunda enviada de alguma cidade da Macedônia, entre 55 e 57. Há suficiente certeza de que Paulo tenha escrito mais duas cartas aos coríntios, que até o momento se encontram desaparecidas. A carta aos Gálatas teria sido escrita entre 55 e 60, embora alguns afirmem que possa ter sido esta a primeira carta escrita por Paulo. A carta aos Romanos provavelmente teria sido redigida no ano 57, na cidade de Corinto, endereçada aos cristãos da capital do Império. A carta aos Filipenses é datada entre 53 a 58.
Até anos atrás, se considerava também a chamada carta aos Hebreus como possivelmente de Paulo. Hoje nenhum autor afirma mais isto e comumente se diz que não se trata propriamente de uma carta, mas de um texto catequético em defesa da fé.
Sobre a vida e a ação missionária de Paulo, nos dá muitas informações também o livro dos Atos dos Apóstolos, escrito por Lucas, provavelmente entre os anos 61 e 63, ou mais tardiamente. Tal livro termina a narração abruptamente e não se refere à condenação de Paulo à morte, o que dá idéia de ser um livro inacabado, redigido antes do seu martírio.
A celebração do Ano Paulino, cuja abertura será dia 28 de junho corrente e término em 29 de junho de 2009, tem como principal objetivo a evangelização. Todos estamos em processo de evangelização contínua, católicos e não católicos, e somos chamados a comunicar o evangelho de Cristo, morto e ressuscitado, aos que ainda não crêem e aprofundá-lo no coração dos que já crêem.
Talvez, a palavra mais incisiva para a vivência deste ano jubilar, seja a de Paulo aos Coríntios: «Ai de mim, se eu não evangelizar!» (1 Cor 9,16).
*Dom Gil Antônio Moreira, bispo de Jundiaí (SP)

Fonte:CNBB

DOM GERALDO MAJELLA AGNELO - CARDEAL ARCEBISPO DE SALVADOR

Paulo o Irreprimível Apóstolo - Dom Geraldo Majella Agnelo

Ao final do mês de junho, terão início as comemorações da bi-milenário do nascimento do apóstolo Paulo, ocorrido provavelmente entre 07 e 09 d.C.
A conversão n o caminho de Damasco. O propósito da viagem de Saulo a Damasco é defender a causa de Deus, guardar a pureza da revelação. A situação explodira anos antes em Jerusalém, numa das sinagogas de judeus de língua grega.
Saulo recorda bem a cena: as palavras arriscadas de Estevão contra a Lei e o templo; a acusação, a sentença, a lapidação. Ele esteve presente. Como um tumor, a heresia dos “discípulos do Caminho”, depois chamados “cristãos”, havia se difundido, criando “desordens” entre o povo. As autoridades intervinham de modo drástico. Os mesmos problemas verificavam-se além dos confins da Judéia.
O Sinédrio de Jerusalém, com autoridade moral sobre as sinagogas espalhadas pelo império, enviava emissários para conter a situação. Saulo é um deles. Um Messias crucificado.. que imbecilidade! Pessoas inteligentes podem chegar a tanto?
Saulo antevê os muros de Damasco. As energias perdidas no caminho se renovam, o ânimo se acende, o espírito se prepara para o encontro com as autoridades da sinagoga local. A luz do dia é forte: meio dia, faltam poucos quilômetros, mas, improvisamente a viagem é truncada. O sol se apaga. Um incidente? Não. Uma emboscada? Um violento choque na encruzilhada? Um terrível impacto? Sim. Uma ruptura interior? Sobretudo.
Saulo tentará explicar o que lhe sucedera: luz, voz, queda, cegueira, revelação, graça... Uma coisa é clara: Saulo foi raptado interiormente. Uma experiência que muda violentamente o centro de orientação da sua vida.
Não existe outro Evangelho! Para Paulo o Evangelho é uma pessoa viva dentro de si: Jesus de Nazaré. A boa notícia não é tanto o que decorre do estupor confuso, diante de um túmulo vazio, na manhã daquele primeiro dia da semana depois do sábado da Páscoa do ano 30 d.C., mas a experiência do Cristo vivo em seu coração, que de dentro repete o seu anúncio e revive o seu mistério pascal. O Evangelho é Ele, Mestre interior e Pastor incansável, que se serve da mente, da vontade, do coração, das forças físicas dos fiéis para pensar, querer, amar, agir. Uma força interior que dilata todas as dimensões da personalidade.
Não existe outro Evangelho. Este é o grande fruto da experiência de Damasco que revolucionou o mundo interior de Paulo. Tudo mais é nada: ser hebreu, pertencente à tríbu de Benjamim, circuncidado, a formação farisaica... Nada pode ser equiparado ao conhecimento de Jesus Cristo, à experiência de ter sido por ele arrebatado, preso, conquistado.
Escrevendo aos irmãos gálatas, 1, 8, o apóstolo é ainda mais drástico e declara: “Se nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse Evangelho diverso daquele que vos pregamos, seja anátema. Não existe outro Evangelho”.
A identidade cristã deve gratidão a Paulo pela sua firmeza, quando “os discípulos do Caminho” foram tentados a identificar-se como nova corrente religiosa do judaísmo do primeiro século. Paulo os liberta de seus medos, tira-os de suas seguranças, desmascara compromissos aninhados em seus pensamentos. Não existe outro Evangelho.
O suporte da existência não pode ser substituído nem com a observância da Lei, nem com a prática da circuncisão: no centro está Cristo, somente Ele. E se está Cristo, existem dois braços estendidos, à direita e à esquerda: aos judeus e aos pagãos, aos escravos e aos cidadãos livres, aos homens e às mulheres. O universalismo de Paulo, verdadeiro, fecundo, nasce aqui, não em Tarso. Em Cristo, com Cristo, por Cristo. Não existe outro Evangelho.
“Com o exemplo de Paulo e das primeiras comunidades, é urgente desenvolver as ocasiões de diálogo com nossos contemporâneos, sobretudo onde se joga o futuro do homem e da humanidade. Os areópagos que solicitam hoje o testemunho dos cristãos são numerosos; eu vos encorajo a estar presentes no mundo. Como o profeta Isaias, os cristãos são colocados quais sentinelas em cima da muralha, para discernir os desafios humanos das situações presentes, para perceber na sociedade os germes de esperança e para mostrar ao mundo a luz da Páscoa, que ilumina com um novo dia todas as realidades humanas” (João Paulo II, 5 de maio de 2001).
Dom Geraldo Majella Agnelo, Cardeal Arcebispo de Salvador
Fonte: CNBB